Bullying e Cyberbullying: Como prevenir e atuar
O bullying e o cyberbullying (comportamentos violentos presenciais e por meios digitais, respetivamente) fazem parte de uma realidade que ainda está bem presente, especialmente em contexto escolar.
Assim sendo, apesar de se ter realizado um grande esforço para os erradicar, é necessário continuar o caminho para combatê-los.
Desenvolvimento de competências socioemocionais
Em primeiro lugar, para falar de bullying (e cyberbullying), é necessário falarmos sobre a importância do desenvolvimento de competências socioemocionais.
Nesse sentido, algumas das competências fundamentais para combater estes comportamentos são as seguintes:
- autoconsciência;
- autoaceitação;
- escuta ativa;
- empatia;
- regulação das emoções;
- competência sociais;
- comunicação assertiva;
- aprender a defender-se assertivamente (sem ser agressivo).
O desenvolvimento destas competências tem um impacto positivo na qualidade e ao longo da vida, uma vez que permite aprender a lidar com situações stressantes e a desenvolver resiliência.
Emoções dão informações
Além de ser essencial desenvolver as nossas competências, temos de dar atenção às emoções. Isto porque é de ressalvar que fazem parte da vida e devem ser contactadas, porque oferecem informação.
Por exemplo, estar triste não significa estar deprimido, mas permite identificar o que nos levou a reagir assim. Deste modo, permite tomar decisões assertivas.
Tudo resulta assim numa ótima qualidade de saúde mental:
- Perceção subjetiva de bem-estar;
- Promoção de competências positivas;
- Capacidade para estabelecer relações sociais.
Por isso há que lembrar que uma atitude positiva tem um impacto positivo nos outros e em si próprio.
O que é bullying e cyberbullying?
Depois desta introdução, vamos aprofundar agora as definições de bullying e cyberbulling. Começamos pelo psicólogo, chamado Olweus, que foi o primeiro a investigar sobre o tema em 1978, na Noruega.
Em termos de vocábulos, bullying deriva do inglês “bully”, que significa “tiranizar”.
Já em termos de definição, o psicólogo descreveu o bullying do seguinte modo: “um estudante é intimidado ou vitimizado quando é exposto, repetidamente e ao longo do tempo, a ações negativas por parte de um ou mais estudantes”.
Na verdade, apesar desta ter sido a primeira definição sobre este tema, há muitas mais definições, mas todas coincidem nas seguintes características:
- Ato de violência perpetuado;
- É realizado de forma individual ou em grupo;
- Caráter intencional;
- Comportamento agressivo prolongado;
- Desigualdade de poder.
Quanto ao cyberbullying, o que é? O cyberbullying consiste em humilhar, excluir ou até agredir alguém, de forma repetitiva e sistemática, através de ações virtuais. O agressor pode recorrer, por exemplo, a conteúdos de fotografia, de vídeo, de áudio ou de texto para concretizar a agressão física ou psicológica.
Em ambos os casos, as consequências do bullying e do cyberbullying nas vítimas são idênticas.
Um em cada três alunos são vítimas de intimidação
Vamos então debruçar-nos um pouco mais sobre as vítimas desta violência. Em relação às vítimas existentes, estes são alguns dados sobre o estado atual do bullying, segundo o relatório da UNESCO de 2018:
- Aproximadamente um em cada três estudantes foram intimidados pelos seus pares na escola durante um ou mais dias no último mês;
- Mais de um em cada três estudantes estiveram envolvidos numa luta física com outro estudante pelo menos uma vez, e 32,4% foram atacados fisicamente pelo menos uma vez nos últimos 12 meses;
- O assédio físico e sexual são os tipos mais frequentes de bullying;
- O bullying físico é o mais frequente em todas as regiões, exceto na Europa e América do Norte. Globalmente, 16% relatam ter sido atingidas, empurradas ou presas algures;
- O bullying sexual é o segundo tipo mais comum;
- Novas formas de violência sexual, incluindo o envio de mensagens e imagens sexuais online. Entre 12% e 22% das crianças receberam mensagens com conteúdo sexual no último ano;
- O cyberbullying é menos comum, mas afeta uma em cada dez crianças em algumas regiões. No Canadá e na Europa, 10,1% das crianças sofreram cyberbullying através de mensagens (mensagens instantâneas, posts, emails e mensagens de texto) e 8,2% através de imagens (tirando e colocando fotos impróprias de alguém online);
- Em alguns países, as crianças denunciam violência física pelos seus professores. Globalmente, a prevalência da violência física perpetrada pelos professores é muito baixa.
Agressões físicas versus Internet
Já em relação a quem pratica estes atos agressivos, estes são os dados do mesmo relatório da UNESCO sobre a prevalência do bullying:
- A prevalência do bullying diminuiu em quase metade dos países;
- Dos 71 países e territórios com dados de tendências sobre a prevalência do bullying, em 35 deles os dados mostram uma diminuição da prevalência, em 23 não houve alterações significativas e em 13 houve um aumento;
- A prevalência do envolvimento dos estudantes em lutas físicas diminuiu em menos de metade dos países;
- Dos 29 países e territórios com dados sobre a participação em lutas físicas, 13 detetaram uma diminuição, 12 não viram qualquer alteração e quatro países viram um aumento na participação dos estudantes em lutas físicas;
- Observa-se uma diminuição dos ataques físicos em metade dos países;
- O cyberbullying apresenta-se como um problema crescente. Globalmente, em sete países europeus, a proporção de utilizadores da internet com 11-16 anos de idade que relatam ter sofrido cyberbullying aumentou de 7% em 2010 para 12% em 2014.
O que provoca este comportamento?
Para se perceber o porquê destes episódios acontecerem, os fatores associados para sofrer bullying são:
- A aparência física;
- Origem étnica;
- Desvantagem socioeconómica também aumenta o risco, mas depende da perceção da vítima do seu próprio nível socioeconómico;
- Dados dos países da OCDE também mostram que o bullying é 12% mais elevado nas escolas onde os estudantes relatam ser tratados injustamente pelos seus professores.
Consequências de sofrer bullying e cyberbullying
Já para se ter noção das consequências que existem para quem sofre este tipo de comportamento agressivo, o relatório destaca as seguintes:
- As crianças/adolescentes que são frequentemente intimidadas têm cerca de três vezes mais probabilidades de se sentirem “estranhas” na escola comparadas com as que não são intimidadas, e têm o dobro da probabilidade de faltar à escola com frequência;
- Também é mais provável que queiram desistir da escola;
- Os resultados académicos são mais baixos para crianças que são intimidadas. Têm maior probabilidade de sentirem mais ansiedade perante um exame, mesmo estando bem preparadas;
- A saúde mental e física e o bem-estar são negativamente afetados. Há o dobro da probabilidade de se sentirem sozinhos, terem problemas ao adormecer à noite e alguns relatam considerar o suicídio;
- A perceção da qualidade da saúde e satisfação é menor entre as crianças vítimas de bullying;
- Existe uma associação entre o bullying e taxas mais elevadas de consumo de tabaco, álcool e canábis.
Como combater o bullying e o cyberbullying?
Por último, temos de perceber que há algumas estratégias preventivas para combater o bullying, as quais são:
- Programa de intervenção anti-bullying: escola, turmas, alunos;
- Programa para melhorar relações entre pares;
- Reunião entre Associação de Pais e Professores: aumentar a cooperação e comunicação;
- Sensibilização e formação de docentes, não docentes, pais, alunos;
- Atendimento aos alunos;
- Melhorar espaços recreativos;
- Articular com a família. Partilha de responsabilidades;
- Escola e família devem partilhar e transmitir valores: solidariedade, tolerância, justiça e responsabilidade;
- Implicação da comunidade educativa e melhoria de relações;
- Treino assertivo, autoconhecimento, autoestima, competências sociais, aconselhamento entre pares.
Também a Ordem dos Psicólogos Portugueses publicou algumas estratégias preventivas para combater o cyberbullying que são importantes mencionar:
- Proteger as passwords;
- Não abrir as mensagens não identificadas ou sem remetente;
- Fazer sempre logout das contas;
- Não publicar nada que possa prejudicar a imagem ou reputação;
- Fazer uma pesquisa pelo seu nome de forma regular no Google e remover fotografias ou outro tipo de informação que possa prejudicar.
A regra de ouro para combater o bullying é: “Trate os outros como gostaria de ser tratado!”
Agora que já conhece um pouco mais sobre este assunto e se suspeita ou sabe que o seu filho é vítima/quem faz/quem observa situações de bullying ou cyberbullying, saiba que a Psicologia pode ajudar.
Entre em contacto comigo, para consultas online ou presenciais na Maia, Porto ou Santa Maria da Feira.
Referências
- https://www.ordemdospsicologos.pt/pt
- https://www.who.int/es
- http://www.infocoponline.es/pdf/BULLYING.pdf