Luto migratório. Já ouviu falar? É a tristeza por ter migrado (quer para fora, quer para dentro de um país). Se conhece alguém ou se você mesmo/a passou por uma situação semelhante, então leia este texto.
O lado alegre de migrar
Para começar, há que dizer que migrar é uma experiência única. É única, porque a vivência de migrar pertence só a quem migra. Quando uma pessoa migra, mesmo que esteja acompanhada da família ou dos amigos, vive circunstâncias diferentes, bem como a forma de perceber a situação também é distinta.
Migrar de um país para outro, ou mesmo dentro de um país, é enriquecedor, uma vez que se aprende diferentes formas de estar, saber e fazer. Cada canto tem a sua cultura, a sua gastronomia, o seu clima e a sua forma de entender e de fazer as coisas.
Numa fase inicial, quem migra pode-se sentir como se estivesse de férias, pois tudo é novidade, está num outro contexto, com novas paisagens e a estabelecer novas relações. É, por isso, uma experiência singular.
O lado triste de migrar
No entanto, migrar para fazer vida noutro país também traz consigo a sua outra cara. É uma dor que se sente por se ter deixado uma vida para trás. Dor que só aparece quando a rotina já está estabelecida, o tempo passa e percebe-se que não pode estar perto dos seus entes queridos nem dos sítios que mais gostava de frequentar.
A comida não é igual, nem o clima. A forma de viver e de entender a vida é, assim, completamente diferente. A dor aumenta quando começamos a entender que a nossa realidade é cada vez mais distante e diferente da outra.
Além disso, a saudade do incerto e a dúvida de se fizemos bem em migrar instala-se. A não ser, claro, que, devido a uma força maior, fomos obrigados a fugir do nosso país. Nesse caso, entendemos que era a melhor opção. Caso contrário, a dúvida pode permanecer sempre.
Migrar envolve um processo de luto
Nas situações em que se começa a sentir o vazio, notamos e começamos a dar valor ao que tínhamos, sobretudo às coisas intangíveis, tais como o mimo da família ou os nossos sítios favoritos, como a praia ou a montanha. Entendemos que se perderam, por exemplo, os privilégios que tínhamos. É nessa altura que pode experienciar a sensação de tristeza, angústia, inquietude ou mesmo saudades.
Portanto, migrar envolve um processo de duelo ou luto, porque existe uma perda significativa, não só de coisas materiais, mas também de coisas intangíveis que, por vezes, não dávamos valor e tínhamos como garantidas para sempre.
Como identificar o luto migratório?
O processo de luto migratório deve ser trabalhado, caso contrário poderá desenvolver depressão e ansiedade, assim como outros estados psicológicos, tais como a despersonalização, que se caracteriza pela perda da consciência da própria identidade e da realidade exterior. Ou seja, é como se estivesse a observar a sua vida a partir de fora, mas tem dificuldade em contactar com as suas emoções e vivências.
Tudo isto pode dificultar o processo de estabelecer e de manter relações sociais saudáveis, bem como de seguir em frente com os seus projetos pessoais e profissionais. Como consequência, a relação sentimental fica afetada; os filhos podem sofrer com a sua instabilidade emocional e pode ainda prejudicar a sua própria saúde mental e a dos seus entes queridos.
Poderá pensar que uma forma de terminar com a dor é regressar ao seu país de origem. Mas desengane-se, porque não é assim tão simples. Uma vez que migrou, a sua vida também continuou e foi estabelecendo relações, criando novos laços e significados. Por exemplo, terminou os seus estudos, estabeleceu uma relação amorosa, teve filhos nesse país ou desenvolveu um projeto profissional, entre tantas outras coisas. A ligação emocional dessas experiências faz com que, de alguma forma, faça parte desse novo, mas paradoxalmente já antigo, destino.
Como superar o luto migratório?
Assim sendo, temos de aprender a lidar com esse sentimento de tristeza em relação à migração.
O luto significa a dor pela perda de um ente querido, bem como quando perdemos coisas – tangíveis e intangíveis – significativas. Mas há maneira de superarmos essa fase.
Em concreto, para superar a dor que se sente quando somos migrantes, deve fazer o seguinte:
- Identifique as suas emoções, sentimentos e pensamentos.
- Aceite as emoções e as perdas que isso envolve. Ao aceitar, vai ajudar a diminuir o impacto negativo da perda e a transformar a situação.
- Recupere fotografias e faça um álbum. Inclusive, pode escrever sobre a sua vida antes e depois de migrar.
- Partilhe as suas experiências e tradições com os seus amigos e familiares.
- Comente com os seus filhos as suas histórias e repita algumas atividades que possam ser realizadas.
- Fique com os momentos felizes e lembre-se deles com alegria, porque fizeram e fazem parte de si.
- Identifique os aspetos positivos que obteve, graças à sua experiência de ter migrado.
- Integre a sua vida numa só. Antes de migrar e depois de o ter feito, é só uma vida!
Resumindo, valorize a sua vida e reconheça que a sua vida não teria sido igual se não tivesse migrado, porque as circunstâncias e a realidade são bem diferentes.
Como sabe, o apoio psicológico revela-se fundamental para superar o luto de ter migrado.
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