Mutismo Seletivo – Ansiedade na Infância
Provavelmente já ouviu falar da perturbação de ansiedade… No entanto, saiba que a ansiedade é uma perturbação que pode manifestar-se de diferentes formas. Neste artigo, vou partilhar consigo informações úteis sobre o transtorno de ansiedade – mutismo seletivo, que podem aparecer durante a infância.
O que é o Mutismo Seletivo?
Corresponde a um transtorno de ansiedade que aparece durante a primeira fase da infância, caracterizado pela incapacidade da criança falar de pelo menos num determinado contexto específico, por exemplo na escola.
Compreendem a linguagem e são capazes de falar normalmente em áreas onde se sentem seguras e confortáveis. No entanto, ainda não se sabe porque desenvolvem os sintomas mais característicos como: recusar-se a falar diante um grupo de pessoas, ou sentir-se desconfortável nessa situação e ser incapaz de falar.
Como é que se manifesta?
O que se sabe é que as crianças sentem um medo real de falar e de interagir socialmente, mesmo quando existe uma expectativa de que elas falem. Podem ser incapazes de se comunicar de forma não verbal, ou estabelecer contato visual e podem ficar paralisadas perante certas situações sociais específicas. Pode ser frustrante para os pais e professores, e extenuante para a criança.

Quais são os critérios de diagnóstico para o mutismo seletivo?
Os critérios diagnósticos para o mutismo seletivo definidos no DSM-V (2013) são:
- Sem vontade de falar e de uma forma persistente em situações sociais específicas nas quais existe a expectativa de falar, como por exemplo na escola. Apesar de ser capaz de falar em outras situações.
- Perturbação que interfere na realização educacional, profissional ou até mesmo na comunicação social.
- Duração mínima de um mês (não limitada ao primeiro mês na escola).
- Dificuldade em falar, sendo que a razão principal não se deve a um desconhecimento ou desconforto com o idioma exigido pela situação social.
- Perturbação que não é bem explicada por um transtorno da comunicação (ex. tartamudez, transtorno da fluência com início na infância), nem ocorre exclusivamente durante o curso de transtorno espectro autista, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.
O mutismo seletivo é um transtorno raro, com uma prevalência menor a 1% e com início entre os 2 e 5 anos de idade, (DSM-V, 2013).
Porquê razão a criança desenvolve mutismo selectivo?
Parece estar relacionado com uma predisposição genética para a ansiedade! Esta tendência para sofrer de transtornos de ansiedade, pode manifestar-se com os seguintes comportamentos:
- Dificuldade em separar-se dos seus pais.
- Mau humor.
- Comportamento dependente.
- Inflexibilidade.
- Problemas de sono.
- Birras frequentes e choro.
- Extrema timidez desde a infância.
Por que motivo têm medo de falar?
Quando a criança começa a interagir socialmente em contextos não familiares, aparece o medo de falar, a postura corporal fica rígida e surge uma ausência de expressão no rosto e no sorriso. Quando nascem, são descritos com temperamentos inibidos, ou seja, mostram medo e desconfiança perante novas situações.
Também tem sido identificado um limiar mais baixo de excitabilidade na amígdala (área do cérebro). Parece que a amígdala reage demais quando recebe e processa os sinais de perigo potencial.
Apesar de não existir um perigo real, a criança com mutismo seletivo, pode experimentar um medo real.
Como não supera o sentimento de medo, então fica em silêncio. Outros fatores de risco, junto dos fatores genéticos, que podem contribuir para o desenvolvimento do mutismo seletivo são: transtornos de linguagem, um contexto stressante. (Consultado em http://selectivemutism.org)
Que tratamento existe para o mutismo seletivo?
Os tratamentos estão orientados para tratar a ansiedade, uma vez que o mutismo seletivo é um transtorno de ansiedade. Os objetivos terapêuticos são principalmente aumentar a autoestima, autoconfiança e a comunicação em contextos sociais. Deve-se procurar diminuir a ansiedade e aumentar a confiança para facilitar o comportamento verbal. Tem sido evidenciado bons resultados com a terapia cognitivo-comportamental, em conjunto de medicação, e com a terapia familiar.
Reforço Positivo
Para exemplificar a terapia comportamental no mutismo seletivo, esta apoia-se no Reforço Positivo.
- Fazer uma pergunta à criança
- Começará a sentir excessiva ansiedade
- Como consequência, irá evitar baixando a cabeça ou até esconder-se
- Aguarde até a criança responder
- Evite punições, castigos e até abraçar a criança de baixar a cabeça ou se esconder
- Quando finalmente responder, reforce o comportamento com um elogio ou um abraço
Procure ter paciência e compreensão com a criança! Estes comportamentos não são feitos de propósito, muito menos para o irritar. Pelo contrário, é real a ansiedade que está a sentir, mas com amor, o adequado reforço positivo e os tratamentos necessários a implementar vai conseguir adaptar-se.
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- http://selectivemutism.org